quinta-feira, 24 de março de 2011

Pular, seu muro... Por Carmen Ligia


“Já perto de uma hora...
Sinto ao longe, sinos tocando...
Gatos que não miam...
Profusão do encantamento absorto no tempo ausente.

Vejo uma grade, com pequena abertura,
Seria seu coração, fechado em forte castelo?
Vejo sua mão que acaricia meu rosto,
E ao tocar minha nuca, diz-me: Te quero!

Tem uma rua plana, estreita, e enganosa.
Tem vizinhas loucas por um bom dia!
Tem um lixo enorme na porta,
Mas a casa está limpa, e vazia...

Um sofá tão aconchegante que pede deleitamento.
Uma rua em transe que pede, esquecimento.
Umas árvores miúdas, e pensas em frutos;
Antes as flores, fujamos de qualquer absurdo!

Mais tarde a sua voz que não veio.
A palavra não lida,
A extensão do que vejo,
Mas é só impressão? Seria intuição? Devaneios...

Àquela praça em que esperas ela passar...
Mas quem é ela, que brilho cintilante no olhar, estás a buscar?
E das nossas vozes, mudas, já silenciadas,
Vejo que não tão certo, tudo poderá dar certo, em qualquer madrugada...

Mas peço o dia de Sol
Ver este nascer, com você!
Nos jogaremos ao mar,
Amar, e pertencer; se doar, sem tanto escrever.

E falar, eu quero você...
Já é toque de lábios,
Braços que me enlaçam a cintura,
Calor que me deixa tonta; tua...

E um lindo mar a nos açoitar, sereno...
Ainda que rebente ondas fortes, intensas,
Que nos faz andar um pouco,
O salgado da água, e nossos seres absortos...

Meio do mar,
Naufragar em teu desejo, minha maior vontade...
Amigos que não somos,
Amores, à parte...

E a poesia sucumbe à realidade:
É tarde, bem tarde...
A grade que conserta te desconcerta, no seu eu profundo,
E o que me resta? Abstração, poemas chulos... Mas quero pular seu muro!"

(Por Carmen Ligia, em 01h08 madru, 24/3/11, chuva forte em Aracaju...)

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