terça-feira, 15 de março de 2011

O que conto é "poesia-conto"... A MASMORRA (Por Carmen Ligia)



Já são mais de duas e meia da madrugada,
O silêncio do meu quarto não silencia minha alma.
Esta queria gritar aos 4 ventos
Os anseios de irriquieta alma...

Alguém fisicamente presente,
De presente,
Em meu presente.
Inexiste... Meu ser está ausente!

Ausente de si, pois não pode compartilhar versos sem fim...
Não escritos,
Antes falado!
E com beijos, e ternos abraços...

O silêncio do meu quarto é enganoso!
É quebrado segundo, em meia hora,
Estou numa suíte de masmorra
E todos usam este toalete...

Me inverte sentidos
A pele arrepia...
Os nervos à flor da pele,
Nesta casa sem vida... Vazia.

Vida é paz!
Não é um lugar supostamente confortável
Isto tudo é lixo,
'A burguesia fede', pois ninguém permite amor brotar...

Lar? Que lar?
Estou a sufocar, fenecer
E quando saio tento rir, brincar, alegrar,
Para poder aguentar este drama pitoresco...

Afinal, tudo é ensejo
De brigas sem fim
Acusações imbecis,
E muito infantis...

O cigarro que voltei a acender
Mas aqui dentro não dá!
Aqui tudo é proibido,
Proibido ser gente, melhor calar...

E se fosse escrever meu drama
Antes seria trama,
Realidade insana
Não do que sou; do que me circunda e que me atola na lama.

Eis o que chamam família,
A mater provedora abriu a porta
Mexe no guarda roupa,
Que range, quando a mesma cala.

Pra quê falar?
O silêncio é mais pertubador
Pois o semblante não pode negar,
Que nesta casa, estou de favor. Madre? A me suportar...

Meu horror.
Publicar minha tragédia de vida privada?
Não, este escrito é mera fantasia
Uma realidade "inventada", abstrada, mas que mordaça!

E quando venho a escrever
Desabafo.
Alguém poderá ler e dizer:
Mas poeta, porquê?

Explicação não há,
Isto é tão antigo quanto meu respirar...
Por isto prefiro a cortina de fumaça fedorenta,
Ela anestesia um pouco da dor de sentir, e ter que fingir que aguento tanta asneira!

Ora, do sustentáculo que não fomentei,
Da renda que não possuo no final de mês,
Dos sonhos que foram rasgados pelo massacre da minha fuga,
Tentei fugir DESTA REALIDADE, e ainda aqui, com quase 30 que assusta...

Assusta, não por rugas que não tenho
Mas às vezes pernas doem...
O que apavora é o que não fiz
Ai de mim, permaneço no farelo, no dejeto de tantos dramas...

Insana é a parte da vida que me foi retirada
Porque o medo me assaltou na longa estrada...
A fuga não valeu nada,
E estou nesta masmorra de classe aburguesada...

E antes ter sido advogada, pela grana...
Em meu lar, com processos e tédio,
Não seria mais suave que este drama?
Mas o passado não se recolhe, a vida anda...

E História?
Curso que me parece a própria construção de qualquer civilização
Quem sabe da própria humanidade...
Ai de mim, desde 2004 e ainda a graduação se arrasta sem fim...

Mas a cabeça que não centra
O alopático que envenena?
E ela vem me falar do cigarro?
Por favor, este é sobremesa. O veneno é meu principal prato...

E aí vou, passando
De desengano, em desenganos...
No interior, meu pai e a depressão do tédio interiorano
Aqui? Ai de mim... Realidade que tento fugir, mas como?

Há de dizer: Vai trabalhar poeta de letra barata
Tu não vende o que escreve,
Vai buscar mínimo salário,
Ao menos terá paz em um recanto, humilde, sagrado...

Mas e a faculdade-dificuldade?
Por favor, Poder Superior,
Me ajude a terminar a bendida universidade...
Quero é ensinar, aproveitar esta grande oportunidade.

Mas como me concentrar
O circo, a novela, a Globo é aqui!
O filme é drama sem fim...
Risos mero comercial na madrugada; curtos, pra apresentar programação diária.

Mas lá fora...
No mundo aí fora, vejo aurora,
Pessoas que me estimulam ir além
Afinal, 'do lixão nasce flor', também!

E minha tragédia
Um dia há de ser comédia.
Vou tomar um cafezinho,
E acender cigarro lá embaixo do prédio, afinal, não pago meu quarto.

Quem mandou não trabalhar?
Quem mandou não seguir o sistema?
Agora, "aguenta"...
Quem mandou tanto sonhar, ser poeta sem eira nem beira?

kkkkkkkkkkk
Há de tudo mudar
Me vejo Historiadora,
Tanta "história" pra contar...

No estilo História do cotidiado
Meus desenganos, meu recomeçar
Meu levantar,
Afinal, minha fé não tem tamanho...

E hei de fazer o que gosto de fazer,
Não esmorecer diante da realidade que me empurra pra qualquer coisa...
Se até aqui, fiquei a esperar...
Que o comercial venha, é minha escolha:

O café que vou tomar
O cigarro que vou fumar;
A realidade que hoje, vou aceitar
Mas a fé que tudo irei superar...

Deus tem um propósito para mim
Fazer versos sem fim,
Quem sabe ter um lar?
Pois Jesus há de me resgatar, da masmorra.

Eu quero ver o mar,
Amar
Cansei de sonhar...
Vou me formar, pois fiz a melhor escolha:

Ser autêntica.
Ser poeta...
Tudo aqui é quimera, meros roteiros pra filme fazer
E eu hei de ser, UMA VENCEDORA! Deixo aos 'cegos o castelo', esta PATÉTICA masmorra...

(Carmen SANTOS).

2 comentários:

  1. hermosa poesia, querida carmen ligia, te agradesco que me hayas compartido tu blog ya que asi puedo leer tu hermosa poesia. me gusto mucho felicidades y bendiciones para tu proyecto, que sea todo un exito

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  2. Carmem querida, poesia muito intensa kkkk. Verdade, bem profunda. Gostei muito. A poesia é intensa como você. Bjsss

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