domingo, 19 de fevereiro de 2012

Auto-Retrato (Por Carmen Ligia Vila Nova)

'É a pintura uma poesia que se vê e não se ouve,
e a poesia uma pintura que se ouve e não se vê.'
(Leonardo da Vinci)


"Senti um começo e vi o meu fim.
Senti a dor, e o nascimento.
Vejo passos e sinto vento,
Vejo estrelas, mas clamo universoS.

Senti o cheiro, e o odor de cigarros,
Que doem o peito
E preenchem um buraco,
Que é um vazio neste peito meu... Vazio explicável.

Senti o mormaço, e pressinto a chuva.
Senti o descompasso, e levantei da noite escura.
Vejo alguns raios, mas não clamo o sol, ou algum candeeiro perdido...
Sinto a maresia do mar, e visualizo meu abrigo.

Vejo meu corpo insone, e minha alma despedaçada,
E estes cacos são o melhor do meu eu!
Porque dos pedaços não vou reconstruir o que já foi esfacelado,
Mas a obra é minha, e a grande maioria são produtos em série sem autonomia.

Mas ainda assim não sou livre,
Mas sou quem sou:
Me REdescobrindo, me explorando, indo além do script rotineiro;
Não me prendo a nada, vezes me prendo, me arrebento, vezes me arrependo, mas sou por inteiro.

O que sinto são meus passos em busca de sentidos sempre além do que é palpável:
Mais estrelas, mais cometas; mais erros, mais alegrias, e mais lágrimas.
Eu vou porque ficando não retenho nada,
Ainda que eu guarde velhas cartas, mesmo da tenra infância.

Criança...
Que sente que deve sentir
Porque só assim sou poesia.
E é por isso que eu vim: Ser sem ser, e ser por mim.

Ser a máscara que cai
Ser o gosto que clamo.
Ser o litoral e ser o pântano.
Ser ínfima e sem tamanho: assim são os geminianos.

E assim são os que são mais do que se pode medir...
Porque sentindo os nervos explodirem no amanhecer de um dia tão banal,
Nem bem, nem mal, eclético ou normal
Apenas, "equatorial".

Nos calores e no gelado dos dias enfadonhos
E das peças robotizadas,
Eu grito: SOU ALMA!
E tão pouco sou; mera poetinha sergipana que "ainda" não publicou nada.

Pego pincéis que são teclas vacilantes
E estas vacilam perante a imensidão do que poderia dizer,
Mas prefiro sentir a torpeza de ser aprendiz,
Que é a grandeza de falar o que vem aqui!

Chorar e rir... E IR!
Sonhar e acordar, mas não desistir.
Meu auto-diálogo nunca acabado.
Meu retrato que espalho: POETA-QUIMERA (tempos & espaços...)

Eu sinto que já É diferente.
Sem realidade concreta, que não "mudam" as vertentes.
Sou a semente que caindo em terra fértil
Brotam rimas além da imagem coerente.

Não Leonardo,
Não sou Monalisa!
Sou Carmen Ligia.
Sou poeta, em seu quadro seria versos enigmáticos.

Agora sem passado, sem futuro
De presente;
Com vontade e sofreguidão
Sou gente! Já livre. Transparente...

E se quiseres, caro leitor,
Ver meu retrato/pintura, "enquadrada" em quaisquer molduras
Será perda de tempo...
Ao me ler enxergarás espelhos!

"Olhando" pra ti vai ver a mim,
Se minhas palavras trouxerem à tona algum tempo esquecido do seu hoje "perdido"...
Eis que é tempo de sermos nós mesmos!
Menos imagens. Mais sentidos! Sentidos!!

O Meu Auto-Retrato é mais desconcertante
Que Guernica,
Mais pertubador que o Teto da Capela Sistina
Antes que os panos cobrissem "vergonhas"...

E ainda assim,
Imagens que me trazem de volta ao meu eu.
Como meus versos haverão de trazer
Algum traço esquecido pelo pintor, chamado seu eu.

Ora...
Aí já partiríamos pra biografia.
E eu por hora, reles poesia...
Adeus.

???
Da Vinci já? "Morreu"???
É XXI que diz
Não olhe pra fora; "pinte" o seu EU!

Quem sabe assim
Iremos além das Imagens
E seremos A Imagem,
Semelhança de Deus.

Quando não formos pra fora
Mas sim retorno pra nostra alma!
Não o mero retrato,
Quero o retorno pra minha "casa"!!

Versos longos
Não me dizem tudo...
E se dizem "quase" nada eis a chave do lar!
Por hora, até outra hora...

EX-tradas já não levam a nada,
Mas o auto-conhecimento
É a chave
Que haverá de DERRUBAR muralhas."

(Por Carmen Ligia, 19 fev 2012).

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